sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Alma antiga


VI

No mais subtil dos sismos
vemos uma flor 
desabrochar
enquanto se desenrola
o tremor de terra
num sopro de ar

fugaz
perde-se o meu olhar
como nevoeiro 
ou um pássaro
que voa
mas sob a claridade
da lua
um tigre agita-se
por entre os juncais

inclina-se a noite
como um sabre 
cortando a luz
e chega rubra
a alvorada:
a manhã seduz





quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Alma antiga


V

Porque o espírito antecede o tempo
e o cântico dos anjos ecoa nas fronteiras

entre as margens
sou um rio a fluir para o mar
sou uma ponte para atravessar

e sou as margens
que o rio refresca
que a ponte alterna





terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Alma antiga


IV

Não pode ser tarde
tão cedo

moldar a vontade
correr de olhos fechados
e abri-los 
só na hora de ansiar a clareira 
onde a luz suspende
o melhor jardim de sombras verdes





quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Alma antiga


III

Como foi isso?
as palavras que eu escrevi
já antes dançavam no ar

oh sabedoria do corpo
guiando-me de lugar
em lugar

já antes dançavam no ar
unindo o que estava separado
guiando-me de volta ao lar


domingo, 19 de janeiro de 2014

Alma antiga


II

sonhei que desaprendi:
errante subia
entre as chuvas e os céus
até a um sol incerto
vibrante me prendia
no ritmo do tambor
na vertigem do corpo
aos sons-relâmpagos do alvor

nada mais sabia
além da respiração da terra
por entre os nomes da noite
alvorecer era a descoberta


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Alma antiga


I

intentos
no brilho de uns olhos intemporais
visão profunda e anímica
aguça como a águia
irrompe na força dos ventos
vislumbra a escarpa transcendente
sopro ancestral
o teu sangue é o meu espelho
meu animal de poder
ímpeto de liberdade
pressentimento de viver





terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Prelúdio


quase nada
foi demora
foi saudade
foi o sol nas janelas
um prelúdio
da memória
de uns breves lençois
cor de rosa
nos estendais



sábado, 4 de janeiro de 2014

Promessa


Nunca 
esse entorpecer
escasso
estagnado
invejoso das asas 
da bailarina

prometo-me
qualquer voo rumo aos céus
e toda a queda dos véus