quinta-feira, 26 de abril de 2012

Esperando a primeira dança

assobiava sempre enquanto caminhava
acrescentava mais uma palavra
muito urgente naquela balada

pé-de-flor
pétala branca
árvore verde
folha em branco
escrevo verde
canto esperança

lá-no-amor
bebi o mar
mantenho a sede
vou pelo mundo
azul a voar
esperando a primeira dança
















domingo, 22 de abril de 2012

A vida que não é pensada

Não me lembro de nada
mas também nada esqueço
esta vida que não é pensada
também é minha
e nela permaneço

vivo apenas não penso
todos os sentidos imersos num mar
imenso
e o meu corpo nem se apercebe
que está a respirar

vivo como quem dorme
se eu pensar
vou acordar
mas vivo mais do que penso
é assim como num sono
sei que estive a sonhar
mas com o quê
só se me recordar
























sábado, 21 de abril de 2012

Vale eu ter disposição

Vale eu ter disposição que me cubra
como se fora passear o corpo
num rio de águas doces
e me desabituasse do veneno
das almas

vale eu ter disposição que me curva
o coração num olhar mais frio
para os rostos incendiados
fazendo-me igual aos deuses
sem desejo
apenas justa
























quarta-feira, 11 de abril de 2012

Chão esquecido (canção de embalar)

Nesse chão esquecido eu traço
uma casa com terraço
donde vejo o céu inteiro
e nos teus braços sou primeiro

vejo o sol que está curado
vejo três nuvens sangrando
e só no teu colo demorado
vou com a chuva sossegando

terça-feira, 10 de abril de 2012

Ninguém que te conheça

Ninguém que te conheça
nem o dia mais claro
tão fresco de ventura
nem a noite quando expia
a tua face mais sombria
muito menos a tarde branda
no seu desvelo
sua madurez e ternura

somos ainda antes do crepúsculo
uma ânsia um apelo

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O viajante

Começou pisando as raízes do chão
demoradamente vivo
nas coisas ao redor da sua condição

ensinou-lhe um louco
subitamente as palavras aladas
e fez do vento o seu melhor amigo

sonhou com as estradas
ao seu redor parecia-lhe tudo tão pouco
e caminhou como se os seus pés tivessem asas

faminto engoliu o mundo
e sobejou nas estrelas
ao redor do seu umbigo

longinquamente unido
às coisas do desconhecido