III - Somos para ser entre os dois um nós
Já sabia de cor o sabor
das noites sobrepostas aos dias
e era para encontrá-la assim às escondidas
que ele se afogava todas as manhãs
num vácuo de espectro ensonado e triste
e todas as tardes com preceito
se imolava queimando no tédio
de não a ter nem sequer no pensamento
não lhe conhecia ainda o contorno
da alma que habitaria os seus dias
agarrava-se pois aquela dor
de vigiar a chegada da lua
e já sabia de cor o sabor
das noites sobrepostas aos dias
morria em cada espasmo dentro dela
só para prender o tempo que fugia
foi acendendo candelabros na penumbra
e onde era escuro a luz a desvelou
não só para um amor ainda ávido
e desfeito na pele feito para o gozo
mas para um amor que seria
em toda a ausência dela vestida ou nua
um desafio ao eterno e ao milagre
de sermos nós
entre a noite e o dia
entre o sol e a lua
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