domingo, 4 de dezembro de 2011

Essa dor que a ti pertence

Principiaste a tua dor no silêncio
onde te demoraste num espinhoso segredo
até que o teu corpo até então calado
soçobrou num pranto de animal esquecido

e entristeceste
por vezes adoeçeste
e não foi só por medo mas por ser tarde
nesse vazio como um lenço
apertando o pescoço da vida
que procuraste alguém e partilhaste

- liberta-me pois não sei nada
dessa noite que costurou as minhas pálpebras
para que só os meus ouvidos ali estivessem
no seu escuro pulsar refugiado
e sofrido dentro de mim

- quero-me despovoado desta dor
ainda sem nome nessa distância de ti
dá-me pois o teu colo
e desalinhava-me os olhos
para que abertos na luz
eu possa acarinhar as flores
e não sinta só o cravar dos espinhos

nesse encontro onde te entregaste
preservado numa aceitação de ti
pudeste encontrar as palavras mais certas
para nomear essa dor já de si
mirrada na coragem de trilhar caminhos

desprendida já da morte que te angustia
não a ignoraste
apenas a resignificaste
na partilha do teu mundo com outros seres
e alcançaste os seus sentidos
no aqui e agora

pronunciaste então a tua sorte
e mesmo que por fim soubesses
ela não ter sido completamente entendida
na lonjura da tua alma
essa dor que a ti pertence
abriu os caminhos
para te transcenderes


















Tua dor nada mais é do que a concha que envolve o teu entendimento se quebrando
                                                       Kahlil Gibran

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