Eu queria de ti amor
apenas
saber que te guias por um sonho
que a tua vida é plena
que arriscas tocar tudo
o que a tua alma anseia
que o amor é a tua fome
que na dor te superas
eu queria de ti amor
apenas
saber-te vivo e grato
enquanto por mim esperas
Duas pontas
tem o teu sorriso:
de um lado
um verbo inteiro
resolvido comigo
do outro
um silêncio meio-dito
entre o desejo constrito
e a espera
Ser habitada pela água
e todo o entendimento
se diluir em mistério
ser um fluxo que desce
como o sangue
de todo o mês
ser esse turbilhão de águas
nunca definitivamente
resolvidas
a vida não desiste nunca
de te chamar
para as coisas não garantidas
Ondas de silêncio
lambem-me
usufruem do tempo
ainda sem nome
são línguas de águas efémeras
que me atravessam
enquanto transbordo do mar
eterna
A consistência do ser
anoitece:
uma fenda
alastra
assedia as terras
repartidas
faz das sombras
suas reféns
até que
pela aurora
a claridade
irrompe
e de novo o ser
se totaliza
assim anoitece
assim se faz dia
Um berço para a linguagem
um texto recém-nascido
a palavra que eu procuro
é rara
e só a poesia a exorciza
dos horizontes que tingem
e tangem os seus fins