sexta-feira, 25 de abril de 2014

25 de abril


Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


           Sophia de Mello Breyner Andersen






















                                        40 anos de liberdade



terça-feira, 15 de abril de 2014

Iluminar todas as encruzilhadas


Existo
a vida trouxe-me
estes caminhos
onde vou conhecendo o meu chão
por entre as dúvidas 
e as possibilidades

no escuro da minha casa
-quando falta a luz-
posso alcançar quase tudo
(mas quase não é tudo)
e recordar que já tive medo
medo do escuro
do inesperado
do desconhecido
e ainda assim agradar-me
dessa sensação de arrepio
de estar viva
de precisar de iluminar
todas as encruzilhadas



domingo, 13 de abril de 2014

Homeless


Onde ficou 
o meu apego
essa miragem 
de pertencer?
em que incerto lugar
em que margem
em que borda 
do meu ser?

onde perdi 
a linha de água
o caminho traçado
a percorrer?
onde me encontro
nesta luz clara
no fundo longínquo
do anoitecer?






sexta-feira, 4 de abril de 2014

Pássaro desigual



Chegar ainda é distante
antevejo o teu corpo
como uma sombra de asa
pronunciando o seu vôo
primitivo e apátrida
estranhando a sua casa

não sei amanhecer igual
todas as manhãs me acenas
por entre as danças da claridade
és de longe o mesmo corpo
contudo um pássaro desigual
distante ainda em chegar




quarta-feira, 2 de abril de 2014

As pedras e o vento


Enchemos de vozes o vento
calámos o tempo
e o vento beijou um a um
os nossos cânticos eternos

fizemos amor com os astros
e acordámos nascentes sobre as pedras
com os corpos resignados às cinzas
e os olhos acesos de infinito

                        suspensos nas estrelas