sexta-feira, 28 de junho de 2013

Oferendas


III

sou agora o pó
as cinzas do meu útero a secar
o silêncio de um fogo que apagou

espero as águas recolhidas
que retornam lunares
e acordam as vozes perdidas
dos filhos que ficaram por gerar


quinta-feira, 27 de junho de 2013

Oferendas


II

quando se aproxima
o grito do silêncio
a carne do verbo
a dor da luz do dia?

no corpo se carregam as asas do mistério
abrimos-lhes as portas
insubmissas
para que voem a germinar
oferendas -
os mais prováveis fluxos
entre o desejo e a sua transcendência


quarta-feira, 26 de junho de 2013

Oferendas


I

são fartos
meus filhos prolongados
nos tempos fátuos
há desejos por cansar

a velar partos
meu corpo-abrigo
tece um desvio
e acerta no alvo

um fluir de pétalas
vem habitar o poema:
no coração do inimigo
também se esconde o verbo amar




quarta-feira, 12 de junho de 2013

Linguística virtuosa


(sobre as metáforas da vida)

ruinoso
por entre metáforas ardilosas
que foi entendendo
e desentendendo
virtuoso
na absoluta necessidade de desfazer
e refazer
suas equivalências entre o destino
e um mutável modo de ser



segunda-feira, 10 de junho de 2013

Renúncia


Íntima renúncia
desço com ela
aos fósseis da pedra

sábio silêncio
criança que brinca
ao toca-e-foge
o mundo é um eterno oceano
quando mergulho
na memória impenetrável da pedra


quarta-feira, 5 de junho de 2013

Pássaro ferido


E com a dor se quebram 
laços
e por vezes se estreitam 
abraços
com o cansaço da vida

superar a dor
é não deixar o seu rasto no chão
é voar
como quem passa onde nada está
porque já se moveu
para chegar ao céu