domingo, 31 de março de 2013

Pequena morte


Água no fogo 
sabor que eu habito
maciez que te percorro
atrito para o infinito
ritmo tateado
acelerando no encaixe dos corpos
labareda até a um mar de espasmos
fogo e água

corpos sacudidos
para que a alma espreite a morte por instantes
o coração inclinado ao prazer
expande-se numa dor jubilosa
de entrega e plenitude

onde me perdi 
a morte me tomou no colo
e foi contigo que renasci
que me encontrei 



quinta-feira, 28 de março de 2013

Séfira


Homem (ideal)
visita-me
no meu templo de séfira
arvora em mim
teu deleite
de hóspede
invade-me
com teu ser
de corpo-apetece
e mente-penetra
enleia-me
no teu calor 
de macho viajante
das horas intrépidas

depois larga-me
às horas
de me enroscar ao sol
felina
de sondar a noite
coruja
sou mãe de outras causas
celibata
sou irmã dos teus ideais
parceira nas horas oportunas
amiga
amante
presente e ausente

desculpa-me
mas não te quero
sempre ao pé de mim
quero-te
sempre
assim
ideal

tens horas que me perguntes?










                                  
                                   

terça-feira, 26 de março de 2013

Contemplação


Tu tens o rosto contemplativo
de um fruto inteiro
maduro
e eu ainda verde
como ter quinze anos e esperar 
o primeiro amor
sou de uma terra
onde pássaros antigos migraram
e não são mais os mesmos
quando te espero
onde a noite é como um mar profundo
um orgasmo que a vida nos pede
para nos ancorar ao mundo



domingo, 17 de março de 2013

Da noite ao silêncio: os amantes adiados


IV

Sem se deixar ver
a madrugada espera
a desvelada luz
que há-de abraçar 
os nossos corpos nus
retornados a casa


quarta-feira, 13 de março de 2013

Da noite ao silêncio: os amantes adiados


III

As mãos transfiguradas
o puro sal do teu suor
a pele depois de tremer
apaziguada
num doce enlevo de serpente
és tu que vens
sem ainda me conheceres
habitar esta inquietação
que é no corpo um rumor
é vertigem nas nossas almas caladas


terça-feira, 12 de março de 2013

Da noite ao silêncio: os amantes adiados


II

No silêncio 
numa pausa
entre as palavras que o instinto reacende
para que a noite ensaie a sua aparição
e se debruce
sobre o indubitável bater do coração

uma lentidão de dedos ansiosos
vai-se rendendo à saudade dos corpos
e é invisível ainda a tua ausência pelo amanhecer























domingo, 10 de março de 2013

Da noite ao silêncio: os amantes adiados


I

Se um gesto teu
viesse de longe caído
a ressoar em mim
como em algum lugar perdido

tão efémera seria a dor
o deslumbre de te ter comigo
e tão necessário o calor
de um mútuo amor já nascido