Já passou o tempo da fadiga
o longo caminho de chorar
sobre as pedras onde os sonhos
se desfazem
corajosos erguemo-nos como
árvores trémulas
uma e outra vez
e caímos para morrer
ou inscritos ao âmago do ser
descansamos sobre as pedras
onde os sonhos se refazem
na urgência de viver
Inclinam-se as palavras sobre espelhos de água
como os salgueiros-chorões
o sol convida aos rituais do dia
enquanto dormem ainda as corujas
suspensas na curva da noite
e a vida continua no seu caudal secreto
Dei-me conta do que fiz
e depois de fazer eu quis
dar um sentido a esse feito
contar uma história do meu jeito
compreendê-la na sua intenção
significar um enredo no tempo
tudo o que vivi e que não foi em vão
Guardo
o incerto
movimento
a vibrante luz
das palavras
que nos hão-de revelar
tão profundos e nus
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