quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Os cais incrédulos

São tantos os barcos que aportam em cais incrédulos
e os marinheiros com anseios de ancorar outros propósitos
que nada me parece mais sensato
do que aquelas madrugadas dedilhadas em guitarras
as noites insólitas os amores de juventude
as raparigas ensinando os seus pares a dançar
os homens esperando envelhecer

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Interrogação

Volteio
devolvo
desloco
interrogo

incerto é o amanhecer do dia que me espera
e convicta a minha dança contra a quimera

ponto de entoação da dúvida rapina
arreganho de fera
procura de bailarina

terça-feira, 22 de novembro de 2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O amigo imaginário

Ainda te vejo
menino roubado
a um anjo azul
asa de corvo
afagando o meu olhar sombrio

e eras na minha infância
a dor
fantasiada de magia
o sol
que vingava na melancolia dos dias
a chuva
que lavava as feridas

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Apanhei o mundo num papel colorido

os primeiros desenhos
que emoção

apanhar as flores o céu as borboletas
e trazê-los para junto de mim
possuir a sua ausência
num pedaço de papel colorido

ah! que emoção
aqueles primeiros desenhos

antes das palavras que serão setas
expandindo a imaginação
e lançando-me atrás das coisas do mundo

antes disso
que deliciosa sensação

a de guardar o mundo comigo
e lembrá-lo numa imagem
criada pela minha mão
pelos olhos pelo coração

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Mulemba

A mulata foi-se deitar
à sombra de uma mulemba
enquanto via o sol se finar

sob o frondoso verde da àrvore
as flores em oferenda
ela abraçou o seu negro devagar

e devagar deixou o céu trocar
a sombra pela luz do luar
e amou-o assim toda a noite

                               umbigada num semba

domingo, 13 de novembro de 2011

Flores do musseque

A barriga das flores
não sabe contar
o verso mais triste
a prosa a chorar

carpelos e estames
guardam as cores
que irão salpicar os capins
escondem os odores
que irão perfumar os jardins

mas o amargo do dia
o respirar apressado
o suado cansaço
dormem no cimento
de um bairro engavetado

e só o negro da noite
com os sons do musseque
faz sorrir o mais velho e o muleque
faz ondular o corpo mulato
como um mar de pétalas a abrir

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Reflexão do sol

O sol perguntou às àrvores
pelas sombras estendidas no chão
obedientes à sua (aparente) rotação

responderam-lhe as flores das acácias
em sensualidades dispersas
indiferentes na sua distracção

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Me encantam as flores

Me encantam as flores
lembram-me os olhos teus
nascendo da terra rasgando o ar
e a tua língua lânguida de amores
perfumes meus

coisas entre mim e as flores
para entenderes melhor
estes meus beijos de mulher
no teu corpo perfumado de suor

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Coisas entre mim e as flores


São coisas entre mim e as flores
enquanto as árvores guardam os segredos maiores
- como rochedos vivos sentinelas do tempo a passar -

as flores estilhaçam-me o tempo cá dentro
nos frágeis instantes em que tento segurar
os seus perfumados odores

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sinopse

Amo os meninos
que foram lobos
nas noites de luar

e que depois pegaram na lua
e afugentaram intempéries
para sossegarem as crias

hoje eles são os pais deste mundo

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Neste mar neste chão

... até que um dia
serei capaz de juntar
entre as mãos
tudo o que perdi neste mar
tudo o que encontrei neste chão

búzios velhos
tão antigos
feitiços de embalar

e o esvoaçar de um riso
terno como a vida
a despontar ...